23 abril 2011

CARTA DE DESPEDIDA




Esta é uma carta de despedida.
Ou um desejo profundo de dar satisfação àqueles que me perguntam porque tenho escrito tão pouco, àqueles que não entendem porque tenho escrito tão pouco e principalmente àqueles que estão muito bravos por eu escrever tão pouco. A todos, um abraço apertado de muito obrigada.

Depois de muita elaboração e insônia, cheguei a conclusão que é chegada a hora da partida. Hora de dar o primeiro passo rumo à uma jornada que há muito tempo tenho adiado: a de ir em busca do que faz sentido na minha vida. Porque é aquela coisa né gente, a Liz Gilbert que me perdoe (eu amei COMER, REZAR e AMAR) mas fazer uma jornada em busca da vida sem a menor preocupação de nada pela Itália, Índia e Indonésia é mole. Agora quero ver fazer isso todos os dias no mesmo endereço, ganhando pouco, na rotina massacrante do cotidiano, sozinha para resolver todos os problemas financeiros e domésticos, cuidando de duas filhas pequenas e ainda tendo que dar conta dos pesadelos da noite e das malcriações do dia. Isso sim é desafio.

Percebi que a única forma de fazer essa jornada é arrumando uma trouxinha e partindo em direção à Estrada Amarela. Aquela que me levará ao Mágico de Oz. Que me dirá que as respostas que tanto busco, não estão em lugar algum a não ser dentro de mim mesma. Parece fácil, mas não é. O projeto não é parar de escrever, e sim, escrever todos os dias. Sobre essa viagem. E quem sabe um dia, transcrever esse diário e transformá-lo num livro de auto-ajuda igualzinho ao da Liz Gilbert, só que numa versão terceiro mundista tupiniquim. Tô brincando. O objetivo da jornada é a jornada mesmo. O que vai acontecer depois realmente não tem a menor importância.  

Escrever nesse blog é maravilhoso. Sempre foi. Essa coisa de elevar o insignificante, colocar uma lupa naquilo que pouca gente consegue ver, tentar contar a parte invisível das histórias é fascinante. Mas eu preciso focar minha energia num projeto só ou vou acabar ficando louca.

Semana passada estive numa psiquiatra. Sentei na cadeira e desabei. Contei que nem a terapia, nem a meditação nem as orações estavam dando conta do meu equilíbrio. Pedi desesperada: moça, me dá aí uma droga qualquer para me ajudar a passar por esse pedaço... quero fazer tantas coisas, mas o corpo não reage. Tenho cansaço e tristeza todo dia... Se eu continuar assim vou morrer... Ela me acalmou, claro - porque que eu tenho que ser sempre tão dramática? - e disse que eu não parecia uma pessoa deprimida e sim sob forte estresse pelos acontecimentos da vida. Mas mesmo assim me receitou um anti-depressivo (que ia me ajudar a formar um escudo protetor) e um ansiolítico (para me acalmar e me deixar pianinho).

Fui para casa e tomei o lance. Uma hora. Duas horas. Comecei a ficar enjoada. Boca seca. Um bocejo. Dois. Dez. Vinte! Caramba! Fui ficando chapada, meio grogue, meio apática. Dormi feito uma pedra. No dia seguinte liguei para ela. Questionei o processo. Ela disse que era assim mesmo. Que o corpo estava se acostumando à droga e que depois de uns dias, todos os efeitos colaterais iriam passar. Desliguei, peguei as caixinhas de tarja preta e joguei tudo no lixo. Tá louca que eu vou fazer isso com o meu corpinho!

A verdade nua e crua é que não existe saída do meu labirinto. Sair significa entrar ainda mais. Primeiro ter coragem de olhar para cada canto, depois começar o difícil processo de eliminação. De tudo que está velho, que não serve mais, tudo aquilo que simplesmente não tem mais sentido. Limpar o coração, olhar pro que eu faço todos os dias e perguntar... meu deus, será que isso é meu ou é do vizinho e eu peguei para mim por um wireless equivocado?

Sei lá. Eu tô realmente acreditando que a cura para minha depressão é mesmo renovar os meus propósitos e só ter pensamentos que apoiem essa minha mudança. Abrir mão de controlar tudo. Esse é o grande ensinamento. O master. O top. Eu fico aí me maldizendo, reclamando de ser uma Drama Queen, mas a grande verdade é que essa morte que eu tanto falo e tanto temo, precisa acontecer. Só renasce quem se permite morrer. Só alcança leveza, quem se livra de tudo aquilo que pesa. Como na cena final de “Viagem a Darjeeling” quando ele corre desesperado atrás do trem e sai largando todas as malas para trás, uma a uma. Que sensação maravilhosa essa de deixar para trás tudo aquilo que não serve mais. Ai... um longo processo. E para isso, só pegando a Estrada Amarela.

Esta é uma carta de despedida. Mas acabei de descobrir que não estou me despedindo de vocês. Estou me despedindo de mim mesma.

Volto quem sabe na primavera. Celebrar com vocês tudo aquilo que em mim vai poder enfim florescer. 

Um beijo em cada um,
Tatiana