27 novembro 2009

Minha menina do arco-íris


Minha pequena acordou triste hoje.
Tomou café e ficou quietinha num canto da casa, sem sorrir, sem fazer bagunça, com o olhar perdido em algum lugar. Perguntei uma, duas, outras tantas vezes o que tinha acontecido para ela ficar tão triste. Ela não sabia responder.

Desmarquei todos os meus compromissos. Disse para ela:
Hoje você vai passar o dia comigo, mocinha.
Ela levantou os olhinhos e sorriu. Um sorrisinho mixuruca, mas sorriu.

Fomos ao cinema, comprei pipoca gigante, balinha, chocolate. Depois saímos de lá e ela se queixou de dor na barriga. A levei de cavalinho pelo shopping até uma sorveteria. Como eu imaginava - ela estava com dor - mas não tanta dor a ponto de negar um sundae.

Mamãe, quero ir para casa.
Fomos. Chegando ela se deitou na cama e continuou quieta. Comecei a ficar realmente preocupada. Tirei do coração uma última cartada para tentar alegrá-la.
Já sei filha, vamos desenhar...

Peguei um monte de papel, lápis de cor, pilot, meu super bloco de papel canson, e sim... meu adorável estojo de giz de cera pastel que ela adora. Sentamos juntas e começamos a desenhar. Em silêncio. Eu tinha certeza de que alguma coisa ia acontecer ali. Ou ela ia se abrir comigo ou os próprios desenhos iam me dizer alguma coisa sobre o que estava acontecendo.

Devagarinho, ela foi puxando papo. Gostava mais de falar mal dos meus desenhos do que de prestar atenção nos dela. Começou a rir das coisas horrendas que eu desenhava. Até que disse baixinho: Mami, desenha um arco-íris vai... é o que você faz de melhor...

Obedeci imediatamente. Peguei as cores no giz pastel, separei uma folha em branco e reparei que ela fez o mesmo. Então juntas começamos a desenhar, cada uma, o seu arco-íris. Óbvio que eu não aguentei e comecei a cantarolar somewhere over the rainbow... e ela comigo... até que me deu uma coisa e eu disse: Quer saber? Vamos fazer esse arco-íris nas nossas paredes filha! Você no seu quarto e eu no meu.

Foi então que a mágica aconteceu.
Coloquei para tocar bem alto a música para que as duas ouvissem, cada uma em seu espaço. Ela lá projetava fervorosamente suas cores. E eu, cá no meu canto, pintava o meu arco-íris assistindo emocionada o que acontecia com ela. Minha pequena foi se transformando em luz em cada cor que pintava na parede. Do roxo para o vermelho, uma risadinha. Do vermelho para o laranja um grito: como é que tá indo aí? Do laranja para o amarelo ela veio correndo e me deu um beijo. O seu tá tá lindo, mãe! Do amarelo para o verde... uma gargalhada... a gente tá ficando toda colorida filha... do verde para o azul, ouvi ela assobiar no quarto. Cheguei devagarinho e a vi, parada em frente à sua majestosa obra de arte, de olhos brilhantes e a alminha lavada.

Foi quando ela me viu na porta, correu pra me abraçar e disse:
Mãezinha, põe a música de novo... vamos dançar?

15 novembro 2009

As Máximas da Clara

Estávamos no táxi, voltando da escola.
Cantando como sempre, para passar o tempo.

- Vamos cantar aquela da Noviça Rebelde mãe... Do, re, mi...
- Ah tá bem.
- Vai.
- Vai o que?
- Começa aquela parte Do, a deer a female dear...
- Ah tá.
- Do, a deer a female deer, Re, a drop of golden sun…
- Não mãe, você fica no dooo... enquanto eu canto a letra.
- Ah tá... doooooo… a deer a female deer…
- Não mãe!
- Mas você tá demorando para entrar.
- Presta atenção mãe, você canta as sílabas da cantura, eu canto a letra.
- Como é que é minha filha? Você quer dizer as notas musicais?
- É ué, as sílabas da cantura!

03 novembro 2009

SER OU NÃO SER: a questão essencial



Tenho um amigo que diz que eu devia deixar de lado as crônicas e mergulhar mais fundo no universo da ficção. Que eu poderia dar voz a muitos personagens, que através deles eu poderia ser, existir e sentir tudo que quisesse com uma tremenda liberdade e que essa coisa que recorrer demais às próprias experiências no fundo no fundo, é uma atitude um pouco egocêntrica e infantil. Principalmente quando se faz tanta referência, como eu, à própria infância.

Esse tal amigo é uma pessoa a quem amo e respeito profundamente, por isso que tais palavras me fizeram refletir um bocado sobre o assunto. A ficção, como forma de expressão literária, é uma coisa distante de mim. Apesar de estar em constante processo criativo, ainda não consigo pensar em fazer tal alquimia de transformar o que sinto, para um outro alguém sentir, mesmo que esse outro alguém seja eu. Esse ato requer coragem e ousadia. Furar essa dimensão é um caminho sem volta. No mais, o que escrevo me sai como inflamação. Gosto que essa dor me pertença. Só assim vejo a possibilidade de transformá-la.

Teve uma vez - uma única vez - que o que eu sentia era tão forte e tão secreto, que eu inventei uma Tereza para passar por tudo aquilo. Me soou tão falso. Tava na cara que aquela mulher era eu, muito mal disfarçada de mim. Sei lá. Eu ainda não consigo achar visceral essa necessidade de inventar personagens. Tanta coisa ainda para sair da minha carteira de identidade. Minha construção ainda é involuntária. As idéias me saem como um jorro de pensamento. Quanto menos apurado, mais funciona. Meus textos são uma busca desesperada por sentido. De que vale nesse momento nomeá-los, se o que busco de verdade é olhar para dentro da minha alma e ver o que há refletido nela?

Esse assunto me interessa tanto que outro dia tive um sonho com uma mulher, uma cega. Acordei, olhei para a noite que ainda não tinha virado dia e falei: Janete. O nome dessa mulher é Janete. Isso só podia ser o embrião de um primeiro personagem! Mas vamos combinar que no quesito sonhos, sou praticamente uma Akira Kurosawa. Se tivesse escrito tudo que já sonhei, provavelmente já teria um livro de ficção publicado. Todos tem início, meio e fim. E os ingredientes básicos de um best seller de sucesso: aventura, intriga, paixão, violência, sexo, muito sexo. Meus filmes, opa, quero dizer, meus sonhos, tem cenas eróticas de colocar Almodovar no chinelinho. Uma delícia. Achei uma forma extraordinária de realizar fantasias! Isso é que ter um inconsciente amigo...

Tenho uma coleção enorme de crônicas: Rubem Braga, Fernando Sabino, Rubem Alves, Carlos Drummond de Andrade. Quase todos os escritores que escreveram crônicas, tiveram a mesma urgência que eu tenho. Traduzir com precisão poética o que lhes transbordava dos olhos, fosse por determinada imagem ou um acontecimento qualquer no cotidiano. E engraçado, por mais infantil que pareça, acho natural que todos recorram sempre às suas próprias infâncias... só pode. É lá que mora o material bruto desse olhar, foi lá que a gente viu melhor o mundo, com mais clareza. Vejo isso hoje através dos olhos das minhas filhas. A simplicidade com que elas vêm as coisas é brutal. Nada mais coerente para um cronista mergulhar na própria infância. Só de lá pudemos trazer a referência autêntica do que somos. Pelo menos, do melhor que fomos. Porque se a idade adulta nos traz amadurecimento, ela também nos traz um abrutamento de lascar.

Já dizia Che Guevara
"Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás."

Ele foi um personagem da nossa história, um personagem de carne e osso.
Acho que preciso dizer isso ao meu amigo... que o que eu quero é ser um personagem de verdade, de carne, osso, voz e alma. E que essa voz possa transformar o mundo de alguma forma. Mas que ela saia da minha boca, na verdade que diz meu coração.

27 outubro 2009

Complexo de Lavadeira

Desde que me entendo por gente, tenho uma enorme dificuldade de compreender a superficialidade das pessoas.

Na infância, minha mãe sempre conta a mesma história: eu pedia para ela colocar na vitrola a flauta do Zamfir ou músicas italianas. Depois de alguns minutos, aos prantos, eu pedia que peloamordedeus ela tirasse aquilo, que eu não agüentava.

Depois veio a adolescência, aquela fase da vida que por si só já é um emaranhado de contradições e a inadequação é quase condição sine qua non na existência do ser humano. Mas o que mais me fazia sofrer era a dificuldade de entender o que as pessoas falavam, já que elas falavam falavam e não diziam nada - pelo menos ninguém da minha idade.

Então eu me refugiei no cinema na tentativa de traduzir melhor a vida. Foi com 13 anos que, vestida de boina, óculos e salto alto, eu furei a censura de 18 e assisti extasiada Metropolis do Fritz Lang. Depois vieram muitos outros que me levaram a um lugar profundo dentro de mim. E mesmo sem ter idéia do que tudo aquilo significava, hoje eu percebo que aqueles lugares que eu acessei – tão nova e virgem de alma – fizeram de mim o que eu sou hoje. No dia em que saí de Koyaanisqatsi – documentário que mesclava imagens da natureza à cenas de destruição da Terra, ao som de Philip Glass – muda e em choque, tive a impressão de que alguma coisa tinha explodido dentro de mim.

Mas foi muito tempo depois, quando assisti Janelas da Alma, que entendi o que tinha acontecido comigo na época. No depoimento do Win Wenders ele diz que aprendeu com a esposa a não permitir que determinadas imagens entrassem dentro dele. Eu também sou assim. É por isso que não assisto filmes de terror e de violência, porque eu sei que essas imagens podem colar no meu cérebro como um superbonder radioativo e que ficarão comigo para sempre, eu gostando ou não.

Foi pensando nessa minha trajetória de mergulhadora que outro dia um conceito – soprado despretensiosamente no meu ouvido por uma amiga muito querida – me fez entender toda a minha dificuldade com quem insiste em ficar boiando na nata da vida. Ela dizia que não tinha muito jeito, que a grande maioria das pessoas só vivia mesmo para ensaboar. Mas o que é que acontece? Por que que esse Complexo de Lavadeira se instalou entre as pessoas, como se fosse o único programa mental compatível com a nossa mente contemporânea? Tudo fica no raso, meu Deus. Na mediocridade da superfície. Até nas artes isso tem se refletido. Na música, na literatura. E o teatro? O vazio no teatro é desesperador. Desde que me propus a entrar de cabeça de volta neste universo, tenho assitido a tudo - sem preconceito. Mas tem sido um programinha barra pesada. Dos espetáculos, pouquíssimos são peças de teatro. A grande maioria é uma comédia para lá de comercial, que aborda os assuntos sem a menor preocupação em se aprofundar ou pior, sem a menor intenção de dar ao público - uma migalhinha que seja – de possibilidade de reflexão. Assim foi a última que vi. No teatro – lotado – todo mundo gargalhava e eu tinha vontade de chorar. Me sentia um peixe fora d’água, naquele marzão de gente feliz. Mas do que é que aquela gente ria tanto? Da desgraça alheia? Da própria cegueira? Do nada? Tá, tinha até uma ou outra coisa com que eu me identificava, mas não era engraçado. Era patético.

Olha, eu não tenho nada contra o humor. Acho maravilhosa essa possibilidade que a gente tem de rir das próprias desgraças. Só levanto essa questão porque isso me pinica as entranhas. O mundo tá ficando insuportável nessa versão twitter de ser. Tudo bem rasinho e rapidinho. Como se olhar para a vida de uma forma mais adulta - mais consciente - fosse deixar tudo insuportavelmente chato e pesado.
Eu mesma tenho amigos que dizem: Ah Tati, vê lá hein? Vê se coloca humor nessa sua peça que ninguém tá a fim de pensar demais num sábado a noite. Você tem cara de quem vai escrever uma peça-cabeça. Vai ficar sem público!

Prefiro ter dez pessoas na minha platéia dispostas a pensar do que cem babando de rir. Já falei disso mas vou repetir: o dia que o David Linch me ensinou essa frase, nunca mais fui a mesma. “Se você quer pegar um peixinho, pode ficar em águas rasas. Mas se quer um peixe grande, terá que entrar em águas profundas.”

Eu quero da vida o abismo, mesmo que isso me custe a vida.

26 outubro 2009

Do livro ASCESE, de Nikos Kazantzákis




“Por uma só coisa anseio: apreender o que se esconde atrás dos fenômenos; desvendar o mistério que me dá a vida e a morte; saber se uma presença invisível e imóvel se esconde além do fluxo visível e incessante do mundo.
Se não cabe à mente tentar a heróica e desesperada saída para fora dos limites, oxalá o pudesse meu coração!
Mais além! Mais além! Mais além! Mais além do homem, busco o açoite invisível que o fustiga e incita à luta. Mais além dos animais, espreito o rosto primevo que, criando, quebrando e refundindo as máscaras inumeráveis, procura imprimir sua marca na carne transitória. Mais além das plantas, me esforço por distinguir na lama os primeiros passos inseguros do Invisível.

Ouço uma ordem dentro de mim:
- Cava! Que vês?
- Homens e aves, águas e pedras.
- Cava mais! Que vês?
- Idéias e sonhos, relâmpagos e fantasmas.
- Cava ainda mais! Que vês?
- Não vejo coisa alguma! Só a Noite, muda e espessa como a morte. Deve ser a morte.
- Cava, cava!
- Ai, não posso atravessar a muralha negra! Ouço vozes e prantos, ouço bater de asas do outro lado!
- Não chores! Não chores! Não é do outro lado! As vozes, os prantos e o bater de asas são o teu coração!

Na ponta dos pés, vou além da mente e chego trêmulo ao sagrado abismo do coração. Um dos pés se apóia no chão firme, o outro tateia as trevas do abismo.
Suspeito que atrás de todas as aparências há uma essência em luta. Quero unir-me a ela.”

23 outubro 2009

Crônica de uma Andorinha Assustada




Atenção tripulação, preparar para a decolagem.

Já perdi a conta de quantas vezes, prestes a decolar num avião, eu me agarrei a um guardanapo e a uma caneta, para escrever e aproveitar ao máximo o pânico medonho que me causa a idéia de voar - sem ter asas. Essencialmente, sempre me senti como uma andorinha - alma dessas que precisa de liberdade para ir e vir pelo céu. Mas quando entro num avião, essa metáfora cai por terra e a iminência da morte me assalta como uma idéia mórbida e sem graça.

Nem sempre foi assim. Viajei durante toda a minha juventude para encontrar meu pai nas férias de verão naquele Bandeirante, aventuresco e pequenino avião, que já na época caia no Brasil feito jaca podre. Meu pai morava em Vitória, no Espírito Santo. E eu, sempre no Rio de Janeiro, aguardava aquele vôo com toda a alegria, afinal, era a chance dourada de estar com ele por longos trinta dias ininterruptos. Mas foi num vôo que fiz de Dallas para Washington, com 24 anos, que essa satisfação em voar se transformou num medo desesperado, quando peguei no ar uma thunderstorm que quase me tirou a vida, literalmente. Na época - me lembro bem - tive que fazer um pouso forçado na Virginia até que a tempestade de raios se dissipasse. E nunca mais fui a mesma.

Só hoje, a caminho de Joinville, numa viagem rápida para rever amigos queridos e dar uma fugidinha da realidade, é que eu consegui entender onde é que esse medo me bate tão fundo. Ao entrar no Boeing 737 da Gol, fazendo questão absoluta de entrar com o pé direito dentro do avião - mesmo sem ser um pinguinho supersticiosa - é que eu entendi que o meu problema tem a ver com o controle ilusório que tenho da vida. Gente, no fundo no fundo, a gente “acha” mesmo que no dia-a-dia tem controle sobre tudo. Sobre a vida, os acontecimentos, sobre o nosso destino. Mas não tem! Definitivamente não tem. Quando se entra num avião, esse é o primeiro soco no estômago que a gente recebe da consciência. Se você não sabe pilotar a geringonça, o que mais pode fazer quando senta e afivela o cinto de segurança? Nada! Só confiar totalmente na competência do piloto. Talvez ter sangue frio em caso de despressurização da cabine, onde máscaras de oxigênio cairão automaticamente de algum lugar e você ainda precisa lembrar de ajudar uma criança ou velhinho, se algum dos dois estiver sentado ao seu lado. E só.

Não sou uma pessoa religiosa. Talvez espiritualizada. Mas na hora em que a coisa vai voar, me entrego a Deus de uma forma tão plena que juro, isso é uma coisa que realmente me faz pensar. Meu Deus! Que ilusão é essa que me faz crer que atravessar a rua pode ser mais seguro que andar neste avião? Não se controla a morte, como não se controla a vida, como não se controla absolutamente nada. A gente pode até tentar ter a ilusão egocêntrica de ter as rédeas da vida em nossas mãos, mas não tem. Basta a primeira turbulência para nos lembrar disso.

Conexão em Congonhas.

Vai tomar banho! Duvido que até meu pai, que é o viajante de avião mais corajoso do mundo, não tenha medo - um suspirinho que seja - desta pistinha microscópica que se pousa em São Paulo. Quem não se lembra de um dos acidentes mais bizarros da aviação brasileira, onde a tal pista foi pequena demais para o carma coletivo de mais de 175 pessoas?

Enfim, para tudo na vida deve haver uma compensação. Para mim, duas coisas me aliviam o sofrimento de voar: o lanchinho a bordo, e as nuvens. Claro que já foi-se o tempo em que o serviço de bordo era top e a gente comia feito Rei e Rainha. Na época em que só existia Varig, Vasp e Cruzeiro a comida era de primeira. Você escolhia se queria massa, frango ou carne. E o talher era de verdade. Eles esquentavam a comidinha à bordo e você degustava aquilo com um bom vinho, com direito a sobremesa depois. Nada desses bolinhos ou amendoinzinhos com guaraná de hoje em dia. Me lembro também que das viagens internacionais meu pai trazia o kit completo de higiene que eu gostava mais do que qualquer presente: uma necessaire com pentinho, escovinha de dente e pasta mini, tudo com nome da empresa aérea. Sim! E o lencinho perfumado, numa época que não existia lenço umedecido para limpar bumbum de neném! Épocas douradas da aviação!

Desde aquele tempo a Voz do Galeão já existia com seu timbre inconfundível. Quem não lembra daquela moça falando - Fly Seven Four Seven to Mi-a-mi. Boarding now – Gate Six… Gente, essa voz continua a mesma depois de 20 anos! Será que ela gravou todas as possibilidades de vôo e morreu, ou continua trabalhando lá como funcionária padrão do Aeroporto Antonio Carlos Jobim com oitenta anos?

O tempo não passa para gente no coração. Não há uma só vez que eu vá ao Galeão e não embarque sem antes lembrar da minha mãe – fofa – cantando o jingle da Vasp para alegrar a gente, antes das férias. Quem lembra disso?
(essa é para você minha irmã!)

http://www.youtube.com/watch?v=__1UJ5CBp10

Mas, de tudo, de todo o sentimento, do medo, da angústia - o que fica para mim é sempre essa alegria simples que me dá ter a chance de estar tão perto das nuvens. Nada pode ser mais lúdico do que a ilusão de poder tocá-las. Já dizia meu querido Quintana que “a única coisa eterna são as nuvens”. Eu mergulho nelas e penso: mesmo que eu tenha que envelhecer alguns anos a cada vôo percorrido, mesmo que eu sempre me sinta uma andorinha assustada, eu insisto em voar, mergulhar, vencer qualquer medo... porque isso me renova o espírito, me traz de volta o que eu sou e à minha profunda crença na vida... de que a vida é sonho, só pode ser. Se não fosse, Deus não faria tantas bolinhas de algodão e as espalharia pelo céu.

22 outubro 2009

Tem dias que eu fico assim




Tem dias que eu fico assim
Precisando muito beber, me entorpecer
Abro uma garrafa de vinho e ele me encharca ainda mais os quereres
Como compulsivamente
Azeitonas, pepinos, amendoins
Pãozinho com queijo e alcaparras
É, tem dias que eu fico assim
Só me aquieto um pouco depois de colocar
Uma colher de sopa de mostarda escura numa torradinha qualquer
Tudo o que vem lá de dentro
É uma ânsia, uma sede
De sabor, de picância
Opa! Essa palavra aí não tem no Houaiss
Sede de picância foi inventado por mim
Mas tem tudo a ver com o meu dizer
Tem dias que eu fico assim
Febril, sedenta, faminta
Não sei o que me dá, mas dá
Uma coisa subcutânea, sublingual, subliminar
A noite quieta só me aguça o desejo de expressar
Escrevo, escrevo, mais não adianta nada
Acendo um cigarro, trago bem fundo
Fico tonta e a coisa não passa
Nem o sabor, nem o labor faz passar essa escassez
Nada parece poder fazer passar o que lateja aqui dentro de mim
Porque eu não sei o que é
Se soubesse, engolia com vinho ou devorava feito canapé
Mas não é
Tem dias que eu fico assim
Talvez seja essa escola de samba que precisa desfilar
Talvez seja aquela música que fez chorar
Ou talvez seja a vida,
que só precisa
simplesmente
acontecer.

22 setembro 2009

O ungüento das canções de ninar



Alguma coisa aconteceu ontem.

Tem noites que eu me sinto muito sozinha. O dia vai bem. A manhã passa depressa e a tarde sempre me traz de presente algumas horas livres para escrever. E o dia tem o sol que acaba iluminando as minhas sombras, mesmo as mais sombrias. Mas quando cai a noite eu começo a me sentir muito só. Em outros tempos era a minha hora predileta, justamente o momento em que o sol saía de cena e a lua chegava me trazendo inspiração, quietude, reflexão.

Mas ontem aconteceu alguma coisa diferente.

A lua já tinha me trazido as bonecas da escola, exaustas e famintas e com elas a infinita lista de afazeres que se resumem as nossas noites. Eu sei que sou uma mamãezinha para lá de exagerada, mas fazer o que? Chegaram? Jantar, suco, sobremesa. Banho na primeira. Secar os dedinhos do pé, colocar talco, limpar as orelhas com cotonetes falantes, hipoglós, fralda, desembaraçar o cabelo. Banho na segunda – esse com um tanto de briga claro, para entrar e para sair – coordenar a esponja com sabão, o xampu, o condicionador. Depois outra luta para ensinar como se seca sozinha. Outro pijama, outro cabelo para desembaraçar, unhas compridas para cortar. Hora de fazer as camas. Preparar o quarto para dormir. Ligar o abajur. Sim, o Toddy, que ainda por cima tem que ser quentinho e da cor exata se não o freguês devolve... Finalmente escovar os dentes, passar fio dental. Bochecho, o ultimo xixi e cama. Ufa.

Deitei com elas e de novo me bateu aquela dor no peito. Eu as tenho tão perto do meu coração. A solidão que sinto não tem nada a ver com elas, é comigo. É essa solidão de não poder mais compartilhar esse amor nos moldes que sonhei de família. Quando a gente ama desesperadamente os filhos, precisa muito dividir esse amor. Até porque minhas filhas são duas preciosidades. De pijama então, me deixam louca de paixão. Clara e Catarina. Uma, miniatura da outra. Muitas vezes penso em como posso ter feito coisas tão perfeitas. É demais ver as duas agarradas aos seus respectivos ursos de estimação. Clara com Teddy e Catarina com... Teddynho, claro. Dois ursos iguais, só que de tamanhos diferentes, na proporção certa, para cada uma. São crianças de sonho. Devagarinho as vejo se acomodando entre minhas coxas, colo e os tantos travesseiros macios que estão sobre a nossa cama. Exalam um cheiro doce, puro, divino. De olhos bem abertos, me esperam abrir o mágico caderno das canções de ninar.

Sim, foi através dele que ontem aconteceu alguma coisa diferente dentro de mim.

Sempre cantei para as meninas dormirem. Foi uma tradição que herdei da minha mãe e fiz questão de manter. Nunca esqueci a voz dela me encaminhando devagarinho para o mundo dos sonhos. Só que ao longo dos quase sete anos de maternidade, foram tantas as músicas que acumulei no meu repertório, que comecei a confundir as letras e por isso resolvi fazer um caderno, escrito à mão, com uma caneta roxa de glitter, com cheiro de uva.

Ontem eu cantei o caderno inteiro.

E a cada canção cantada, eu dissolvia um pouco o nó que apertava o meu peito. Foi então que eu descobri que nas canções de ninar existe um ungüento mágico e poderoso. Que o som da minha voz cantando aquelas melodias podia fazer um caminho secreto dentro de mim, me levar por um túnel no tempo, para o melhor e mais iluminado pedaço da minha vida, quando eu era pequenininha e não conhecia a solidão. Foi extraordinário.

Hoje eu não tive receio da noite, nem da falta do sol, nem das minhas sombras. Porque eu sei que existe uma luz dentro de mim que ilumina qualquer medo. E nem precisa ligar o abajur. Basta cantar Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado... o meu amor, que me disse assim, que a flor do campo se chamava alecrim...

11 setembro 2009




“O que for a profundeza do teu ser,
assim será teu desejo.

O que for o teu desejo,
assim será a tua vontade.

O que for a tua vontade,
assim serão teus atos.

O que forem teus atos,
assim será teu destino.”

Brihadaranyaka Upanishad IV, 4.5

10 setembro 2009

As Divinas Azeitonas



Eu só tenho três azeitonas para comer. Apenas três. Elas e uma taça de vinho.
E é nelas que está contida toda a minha inspiração para falar sobre um assunto muito sério para mim: a magnitude das azeitonas. Tenho um amigo que diz que sou muito exagerada no meu uso de adjetivos. Eu concordo. Mas como é que eu vou conseguir me controlar se o que eu quero esta noite é falar sobre azeitona?

Essa tal de Wikipédia revoluciona minha vida. Fui pesquisar sobre as azeitonas e levei um susto quando descobri que as pretas são as verdes envelhecidas. Questão de metamorfose. Gente, eu não sabia disso! Será que todo mundo sabe? Enfim, prefiro senti-las como o vinho... quanto mais amadurecidas, melhor. Sim, porque sempre tive predileção escancarada pelas pretas. As verdes são incríveis, principalmente aquelas gordas. Mas as pretas, ah... as pretas. Elas tem uma maturação no sabor, uma textura carnuda, um paladar visual. Elas me levam diretamente ao Mediterrâneo, ao seu calor e sol e casas brancas com janelas azuis. Dizem as más línguas que é super hiper mega calórico. Imagina só se alguém me vê com um pão entupido de grossas fatias de azeitona na mão? Vão pensar que enlouqueci. Quem liga para caloria quando se é feliz?

Essa coisa de gulodice misturada com avareza é coisa séria. Pecado brabo. Só pode ser. Uma vez eu quase morri por causa de uma azeitona verde. Eu estava dando uma festa de aniversário em casa e obviamente, ganhei de presente um pote de azeitonas verdes argentinas, daquelas enormes. Coloquei numa cumbuca algumas para servir junto dos petiscos. Comi uma. Como duas. Na oitava achei que devia parar. Eu queria prolongar aquele prazer. E no mais, estavam todos avançando na minha azeitona. Pois bem. Coloquei a cumbuca na geladeira e voltei para sala. Alguém pediu uma cerveja e eu fui buscar. Abri a geladeira, peguei a latinha e assim que eu ia fechando a porta, vi aquelas bolotas verdes indecentes olhando para mim. Ah, pensei, vou comer só mais uma... peguei a safada, joguei na boca e ela foi direto para a glote. Nossa Senhora. Aquela coisa se instalou na minha goela, não descia, nem voltava. Fiz de tudo. Me enforquei, tentei virar de cabeça para baixo. Foram minutos de uma angústia profunda. Achei mesmo que ia morrer. Que patético, pensei, morrer entalada por uma azeitona. Quando finalmente consegui fazer a bicha descer garganta abaixo, já tinha até me despedido da vida.

As azeitonas habitam minha alma num andar muito alto, quase cobertura. Lá estão também o milho verde, a canela, o queijo gorgonzola. Mas isso é assunto para outra prosa. Hoje fico aqui com esse último pedaçinho, da última azeitona que me restou. Isso é que é ser feliz com pouco. Ou com nada. Taí! A azeitona é o Tao do Sabor. Tudo e nada numa só bolota. Maravilha...


(Esse texto é dedicado ao meu pai, João Manoel, que é o maior fã que eu conheço - depois de mim - de azeitonas pretas!)

ALGUÉM ME EXPLICA

Por favor, será que alguém pode me explicar o que foi que aconteceu?

Como foi que a gente permitiu essa alucinação e distorção do tempo no nosso dia-a-dia?
Aonde foi que a gente perdeu o controle da vida e deixou que essa invasão bárbara de infinita demanda assumisse o controle do nosso cotidiano?

Eu hoje chorei lavando louça.

E entendi que mesmo fazendo todo o esforço do mundo, nunca vou conseguir dar conta da minha vida. Não dá. Chega a ser patético. Olhar para todas as minhas responsabilidades e funções, depois para todas as minhas aspirações artísticas, espirituais e existenciais e achar que elas podem se encaixar milagrosamente no que tenho disponível de tempo na minha agenda é um sonho inatingível. Olha, eu conheço esse blábláblá de que preciso entender minhas prioridades e de que ser seletiva na vida hoje é a maior de todas as prioridades. Mas poxa, houve um tempo tão mais justo no passado. Tão mais coerente com o organismo da gente. Tempo das nossas avós, que bordavam e faziam bolo. Tempo das conquistas lentas. Do respeito aos ciclos da natureza. Eu sei que sou uma pessoa nostálgica e que luto muito para tentar achar sentido no caos que virou o nosso mundo. É por isso que escrevo. Mas confesso que muitas vezes o que me fica é a impressão de que essa luta pela valorização das relações humanas, pela busca do essencial e do profundo, é uma luta vã.

Outro dia aconteceu uma coisa surreal. Eu já tinha me desfeito da conta do Orkut há um tempão, porque tinha me aborrecido muito com essa nova condição de relação através de scrapbookmessages. Continuo perguntando e ninguém responde. Quem tem 453 amigos? Mas enfim... na semana passada, uma amiga me convenceu a entrar no Facebook. Que era um lugar mais maduro, de gente descolada, internacional... e que seria uma ótima oportunidade de fazer contatos artísticos. Você precisa ficar antenada com o que está acontecendo com o mundo – disse ela. Tá bem. Fui, entrei e em menos de 12 horas já tinha nas mãos o contato e a vida de mais de 30 amigos. Caramba! Amigos que eu morria de saudade, que eu não tinha notícia há décadas... então, curiosa como sou, passei lá três madrugadas querendo desesperadamente saber deles, do que tinha acontecido com cada um, que caminho suas vidas tinham tomado, por onde andavam. Legal. Mas nem todo mundo entra, nem todo mundo responde. Nem todo mundo se compromete, nem todo mundo tá ali. Porque na verdade, nem todo mundo tem... tempo. Aí foi me dando uma angústia, um vazio... Tão cansada que eu tava, tinha perdido três noites desejando um milagre: pescar amigos com uma rede invisível. Saí do Facebook sem nem me despedir de ninguém. Vocês acham que alguém notou? Não, só a minha amiga antenada que tinha me convidado, que se preocupa de verdade comigo e com a minha necessidade de estar em contato com o mundo. Me ligou de Miami, rindo, dizendo que sabia que no fundo, aquilo não tinha nada a ver comigo. Enfim, isso sem falar no Twitter, no Messenger, no Google Talk. Mother Fucker de mundo americanizado!

Eu choro mesmo lavando louça. Choro porque não tenho empregada todo dia, porque podia ser mais espiritualizada e aproveitar para meditar enquanto ensabôo a panela com restinho de feijão. Choro porque tenho filhas divinas e maravilhosas mas que dão um trabalho braçal incrível na idade em que estão. Choro porque queria escrever, estudar, ler tantos livros, assistir os filmes que peguei há dias na locadora e não tive como. Choro porque não priorizo a natação que me prometo desde que fiz 30. Choro porque queria conhecer o mundo e provavelmente não vá conseguir fazer isso a não ser que me torne uma guia de turismo já. Choro porque queria continuar escrevendo aqui por mais tantas horas, mas agora realmente tenho que ir. Ao banco, ao supermercado e finalmente comprar o milho verde que prometo para Clara há mais uma semana e não consigo cumprir.

01 setembro 2009

ANJO MIÚDO




Como posso ser tão cega e não perceber o que essa criança está a horas tentando fazer?

Acordei de madrugada mais uma vez para escrever. A inquietude da minha alma tem me despertado todas as madrugadas, por volta das três horas da manhã como se fosse oito. Resignada, levanto, lavo o rosto, preparo um chá e vou para a frente do computador tentar descobrir o que de tão urgente precisa sair de mim.

Mas nada acontece. Me distraio então com alguma pesquisa na internet, dou uma olhada nos meus emails e me lembro, como um despertadorzinho interno, da maravilhosa declaração de David Lynch a respeito da criação artística: “Se desejamos pegar peixes pequenos, podemos viver em águas rasas. Mas se desejamos pegar peixes grandes, então não escapamos de mergulhar em águas profundas”. Sei bem o que isso significa: meditação.

Meditar para mim é um esforço sobre-humano. Todas as vezes que tento meditar me deparo ainda mais com as turbulentas águas em que transbordam minhas idéias. O contato com essa realidade é assustadora. Somos um povoado de imagens e sentimentos que se misturam violentamente dentro da cabeça. Minha guru diz que a meditação é o único caminho para a paz interna. E que a paz é a única chance que temos de sobreviver ao caos em que o mundo se instalou. Através dela temos a chance de expandir nossa consciência e ir ao encontro da divindade que habita no fundo da nossa alma. Ela diz também que meditação não é nenhum bicho de sete cabeças. Basta sentar-se e permanecer em silêncio. Mas e quem disse que eu consigo ficar em silêncio com todas as urgências gritando dentro de mim?

Pois bem. Estava eu aqui de madrugada debruçada sobre essas questões, quando chega Catarina, minha filha caçula, descabelada agarrada ao seu urso e chamando chorosa por “mamãe, mamãe...” Ai puxa vida, pensei comigo, agora mesmo que a meditação foi para o beleléu. Peguei-a no colo e a coloquei na cama.

- Não mamãe, quero colo.
- Catarina, pelo amor de Deus minha filha, tá de noite, olha só lá fora, o sol ainda não chegou, você tem que dormir...
- Tá, mas no seu colo mamãe.
- Tá bem...

Coloco-a no colo e canto baixinho uma canção de ninar. Minha cabeça continua a ferver. Ansiosa, desejo desesperadamente que ela durma para que eu possa voltar ao meu universo conturbado de tão sérias questões a resolver. Devagar, a acomodo sobre o travesseiro macio. Saio de mansinho. Um minuto depois, ela sentada na cama, de olhos molhados, me chama:

- Mamãe, eu quero você.
- Filha, o que é que tá acontecendo com você meu anjo?
- Mamãe, quero colo.
- Tá bem, eu vou deitar do seu lado.
- Não, eu quero colo. Colo sentada.

Impaciente, saio de novo do computador e a pego no colo. Sento na cama. Ela me olha fundo nos olhos, dá um sorriso, faz um carinho no meu rosto e fecha os olhos. Só então eu compreendo. Meu anjo miúdo de cabelos cacheados tinha saído de sua caminha para vir até aqui me ajudar a meditar. Que burra! Como pude ser tão cega e não perceber o que essa criança estava a horas tentando me dizer? Deitada eu pegaria no sono com ela. Sentada, precisando fazê-la dormir, era uma chance de ouro que eu tinha de entrar em profundo estado de meditação. Bastava fechar os olhos e sentir nossos corações baterem juntos.

Nessa madrugada fiz uma meditação profunda. E agora sentada aqui no computador escrevendo, com o pensamento mais tranqüilo, percebo um barulhinho que vem da janela e que me chama a atenção. Olho depressa. É um passarinho, outro anjo miúdo, que me olha através do vidro da janela. O que ele veio me dizer eu já sei: não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho.

29 agosto 2009

Urgência artística



Final da tarde. Céu azul já pintado de laranja. Praça XV frenética com seu vai-e-vem de gente correndo para alcançar a barca. Debaixo do viaduto um homem solitário, recostado numa cadeira quebrada, sola sua guitarra num som estridente, com os olhos vidrados em algum lugar muito longe dali. O amplificador - a um passo de quebrar também - não parece amplificar sua música e sim a angústia de sua urgência artística, essa que assolam os artistas do mundo, que mesmo sem ter condição ideal de se manifestar, encontram sempre um viaduto e transeuntes surdos para lhes ouvir.

Depois de me despedir silenciosamente do músico, sigo meu rumo em direção ao CCBB. Nesta noite eu vou assistir uma peça sobre Clarice Lispector. Quando de repente me lembro do Café Livraria Arlequim. Eu estava louca por um café. Ah, que delícia sair do ar viciado e carbônico da Primeiro de Março e poder entrar num mundo paralelo, apenas atravessando uma porta de vidro. As livrarias definitivamente tem um cheiro divino, principalmente as que se misturam com café. Essa alquimia ainda pode se tornar mais curativa, quando além do olfato você cuida dos ouvidos. Quando entrei tive que disfarçar meu prazer: tocava um tango... belíssimo! Entrei, fechei os olhos, respirei fundo e disse para alguém que não ouviu: obrigada pelo instante! Ah essa fartura sensorial e criativa de que é feito o mundo!

Sem dúvida alguma, eu também sou uma criatura que sofre de urgência artística. Com a vantagem de me alimentar não só das obras de arte, mas como também da arte que a vida nos dá. No cotidiano, nos sentidos, no observar a vida e se inundar dela. Outro dia ganhei um presente da vida. Eu voltava para Niterói de 996 e me deliciava com aquela beleza absurda do sol refletindo seu brilho na água do mar - quando consegui me deparar com uma cena ainda mais linda dentro do ônibus. O trocador, quieto e concentrado, fazia um origami de pássaro numa nota de dois reais. Lá estava mais um artista com urgência de expressar sua alma.

Saramago diz que “todos somos escritores, só que alguns escrevem, outros não.” Eu diria que todos somos artistas, só que alguns tem pressa, outros não.




25 agosto 2009

O LUGAR A QUE PERTENÇO



Existe um lugar onde o tempo não existe.
Onde não existe a vida como ela é. Só como se sonha viver.
É um lugar secreto, poucos tem coragem de ir. Poucos ganharam o mapa para chegar até lá.

Eu já estive neste lugar. Há muitos e muitos anos atrás. Estive e encontrei um tesouro. A melhor e mais forte versão de mim mesma. Mergulhei fundo em cada história vivida. Bebi das fontes mais preciosas. Caminhei por vielas esfumaçadas de gelo seco. Fiz malabarismos com palavras, me alimentei dos mais famosos poetas, me embriaguei de idéias malucas e imperfeitas. Atravessei paredes, encontrei dimensões paralelas, sobrevoei histórias fantásticas, me emocionei com as mais tristes. Cantei, dancei, presenciei intervenções divinas e o nascimento da arte inúmeras vezes, através de úteros jovens, maduros e muitas vezes, anciões.

Foi lá, nesse lugar, que pela primeira vez eu entendi a vida. E vi sentido nela. Num lugar onde não se exige explicação ou razão. Que só se clama por emoção e pela corajosa capacidade do ser humano em ser livre.

Por isso, hoje... Hoje eu escrevo aos quatro ventos essas palavras e as transformo em passos largos que me levarão de volta ao lugar que pertenço. Lavarei minha pele com todas as palavras líquidas que houverem até conseguir fazer ressurgir nela, o mapa do tesouro que eu tinha tatuado em mim. Escrevo para sacramentar de vez com os deuses esse meu desejo labiríntico de voltar ao único lugar que nunca deveria ter saído. Por isso, hoje... Se for preciso, não só escreverei, como gritarei em praça pública:

Um dia eu voltarei ao teatro!
Antes que eu morra - de novo - eu voltarei ao teatro!
...
(Este texto é dedicado ao meu primeiro professor de teatro Ernesto Piccolo, que sempre me fez acreditar na magia absoluta do teatro e na paixão que ele pode exercer na vida de alguém!)

20 agosto 2009

A luz da vela e o holofote



Eu ontem passei a noite em claro, olhando a chama divina da vela, para ver se via alguma luz na escuridão da minha existência. Não há um só dia na minha vida em que eu não me pergunte: meudeusdocéu, o que é que eu vim fazer aqui?
Nasci com uma extraordinária sensibilidade para as coisas do mundo. Minha infância foi um universo perfeito como devem ser os primeiros anos. Transitei por entre as dimensões paralelas onde todas as coisas mágicas estão, experimentei o mundo in natura, sem nunca me preocupar com o porquê das coisas ou das razões de Deus.
Mas eu desejei crescer e atravessar a fronteira desse mundo interno, porque tinha certeza de que como mulher - tendo posse da minha liberdade - eu poderia finalmente traduzir tudo aquilo que na infância tinha explodido dentro de mim.

A verdade é que quando entrei na idade adulta, percebi que não só tinha perdido parte das minhas asas como também não me adequava a lugar algum. Talvez tenha sido por isso minha busca pelo teatro aos 13 anos. Porque de alguma forma pressentia que na arte eu ainda poderia transitar entre a realidade e a fantasia.
Durante muitos anos eu me debati entre a necessidade de amadurecer – ganhar dinheiro, conquistar o mundo - e ainda conseguir salvar aquilo que eu acreditava ser o melhor de mim: o meu rico e povoado mundo imaginário. Mas o mundo real não é assim. E sem conseguir me firmar no teatro, como profissional independente auto suficiente, abri mão do sonho de viver da arte e talvez nela encontrar meu propósito de vida.

Um dia, sem planejar muito, veio a maternidade. A doce, sábia e trabalhosa maternidade. E sem me dar conta, percebi que uma janela de novo se abria dentro de mim. Foi cuidando das minhas meninas que eu voltei a ouvir a minha voz... aquela voz miúda que dizia: sonhe, volte a sonhar. Por falta de tempo e espaço, a única arte que me cabia entre fraldas e mamadeiras, era escrever. Então comecei a escrever e a escrever... e perceber que se eu desse atenção àquela voz que vinha lá de dentro, com tanta vontade e determinação, tudo aquilo que estava contido há tantos anos, poderia finalmente escoar de dentro de mim. Pronto. Já estava eu sonhando de novo em encontrar meu propósito. Eu tenho essa crença arraigada em mim. Que a gente vem por um propósito. Para trilhar um caminho específico. Se não fosse isso não existiria a tríplice divisora dos indivíduos: dom, talento e vocação. É uma linha muito tênue que divide o significado dessas três palavras, mas existe: dom, vem do latim e significa presente, dádiva, capacidade especial dada pelos deuses. Quem nasce com uma voz abençoada, não pode ter dúvida de seu dom. Talento também é uma aptidão, mas é diferente na origem e pode ser desenvolvido pelo treino e pela prática. Existem milhões de pessoas com talento, mas nem todas tem a obstinação e a disciplina para superarem as dificuldades que encontram pelo caminho. Já vocação é uma palavra de origem latina e significa "o ato de chamar". Quem segue a vocação obedece a um chamado. Quem nasce desejando profundamente cuidar de outras pessoas, está ouvindo um chamado interno. Logo, sua vocação o levará aos caminhos da medicina ou da psicanálise. Se ele vai ter talento para isso, são outros quinhentos.

Mas e quem tem só um amor explosivo no coração e uma paixão pelo mundo, faz o que?

Eu tenho uma amiga querida que diz que “quando fazemos algo que nos dá prazer com relativa facilidade, depois de muito treino, estaremos atendendo a nossa vocação. E que naturalmente as coisas começam a dar certo. Os caminhos se abrem. Tudo flui porque é o seu destino se consolidando.” Hum, minha conta bancária não tem percebido muito essa fluência.

Tantos anos já se passaram desde que comecei a escrever. Nenhuma realização concreta me fez crer ser esse o meu propósito de vida. Tudo bem que não tive a obstinação de um herói, a persistência de um guerreiro, a disciplina de um samurai. Disciplina. É isso que me falta. Ao invés de passar minhas noites em claro tentando achar as razões da minha existência na chama da vela, talvez o que precise simplesmente é focalizar um enorme holofote na necessidade de constância na minha escrita. Só isso.

Só o que sei é o que sinto. E só eu sei a sensação profunda de alívio que me dá escrever um texto, como esse que acabo de escrever. Ninguém sabe o quanto dói uma idéia presa dentro do peito. Já dizia a grande poeta Viviane Mosé: pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra presa. palavra boa é palavra líquida, escorrendo em estado de lágrima.

16 agosto 2009

Experiência de Amor

Outro dia sem querer fiz uma viagem antes de dormir que me deixou surpresa. Eu fechei os olhos e vi, minhas duas pequenas, encolhidinhas na cama dormindo na maior tranqüilidade do mundo. E então aproveitei a visão e dei um beijo de boa noite em cada uma delas. Daí eu lembrei dos meus sobrinhos, que dormem lindos de boca meio aberta, e imaginei os dois, cada um em sua cama, já adormecidos. E senti esse amor profundo por eles dentro de mim, como se fossem meus filhos. Então de repente, me deu um impulso de sair voando por aí, visitando pessoas da minha família, amigos pelo mundo, fazendo na verdade uma jornada interna, lembrando de todas as pessoas que eu amava e sentia saudade.

A experiência foi incrível. Porque eu consegui visualizar todas as pessoas que desejei. Aconchegadas entre travesseiros e cobertores, em estado profundo de sono, algumas encolhidas como minhas bonecas, outras espalhadas pela cama, cada uma eu inventei de um jeito. Mas dentro de mim, o que batia mais forte – sempre – era essa divina possibilidade de poder amar a cada uma daquelas pessoas, num simples gesto de dar-lhes boa noite. Foi umas das experiências de amor mais fortes que eu já vivi. Uma viagem que eu tenho desejado repetir todas as vezes que preciso me alimentar dessa egrégora que me fortalece, esse círculo de amigos de alma que eu ganhei da vida, que são hoje meu elo mais forte com o mundo.

O Mistério Musical da Miguel de Frias

Ontem descobri a verdade sobre o mistério musical da minha rua.
Todos os dias estava acordando, por volta das cinco e meia da manhã, com uma pessoa cantando muito alto em plena Miguel de Frias deserta e silenciosa. O homem – nitidamente a voz era de um homem – cantava a plenos pulmões como se estivesse no palco do Teatro Municipal, adorando o eco que a rua fazia. E como era bonita aquela voz!
No primeiro dia tive certeza de que estava sonhando. No segundo, tive um deja vu. No terceiro tive um treco e fui olhar na janela o que era aquilo. Nada. Ouvia-se apenas o eu queria ter na vida simplesmente, um lugar de mato verde para plantar e para colher... hã? Eu adoro essa música... ter uma casinha branca de varanda, com quintal e uma janela, para ver o sol nascer... Fui deitar achando que estava ouvindo coisas. E nas semanas que se passaram, como ele renovou muito pouco a seleção musical, eu acabei achando que tudo aquilo fazia parte de um delírio mesmo, de um sono truncado pelas minhas noites mal dormidas.
Mas ontem, ontem eu não agüentei. Minha porção Hercule Poirot travou uma batalha de perguntas e investigações minuciosas com os porteiros e vizinhança para tentar descobrir o que havia de fato por trás dessa história. Tão simples: “Sim Dona Tatiana, esse barulho que a senhora escuta é um velhinho que todos os dias vem vender café e chocolate quente para o pessoal da obra aqui da redondeza.”

A vida é simples. E maravilhosa. Qualquer dia desses, é claro que eu vou descer para tomar um café com esse velhinho. E descobrir quem ele é.


05 agosto 2009

Sobre vida, morte e vegetais



Assisti essa semana “A Partida”, o filme japonês que ganhou o Oscar de filme estrangeiro. Assisti porque minha irmã olhou fundo nos meus olhos e disse: “Você tem que assistir esse filme.” Tá bem, eu nunca questiono esse tipo de ultimato. E apesar de não gostar muito de filme japonês, em questões cinematográficas eu procuro sempre combater a ferro e fogo qualquer conceito pré-concebido, porque sei que muitas vezes é na história mais estranha ou esdrúxula, que pode vir o maior ensinamento que a arte pode me dar em determinado momento. Então já que era pra eu ir, fui e mergulhei fundo na história. E voltei calada, com o rosto molhado de tanto chorar, remexida nas vísceras e com um monte de questões para pensar.

Mas o que transbordou e me tirou o sono desde então, foi justamente a questão que está sempre me espreitando atrás da porta: o preconceito. Caramba, se tem uma coisa que me deixa de cabelo em pé, com a veia do pescoço saltada, espumando e com o olho vermelho de raiva... é o tal do preconceito. E mesmo tentando sempre ser uma pessoa justa e tolerante, eu ainda me pego muitas vezes com a boca na botija, julgando uma coisa sem conhecer a fundo, opinando sobre algo que nem sempre tenho o direito de.

Eu sempre tive o maior preconceito com médico-legista. Achava que uma pessoa que escolhia como profissão viver debruçado sobre cadáveres, tinha que ter algum tipo de desvio de comportamento. Porque eu própria tinha um total e absoluto estranhamento de corpos de pessoas mortas. Vamos combinar que quase todo mundo tem. É um mistério profundo para gente. Me lembro quantas vezes me peguei pensando nos milhares de corpos se soltando dos escombros do avião da Air France no fundo do mar. Imaginava aquela cena e não dormia mais. Me lembro de olhar para o corpo da minha tia-avó no caixão e dizer: “Mas onde foi parar aquela alegria?” Só sei que depois de assistir ao filme, muitas coisas dentro de mim se dissolveram e tomaram outra proporção.

A história do músico desempregado que só arranja emprego como nokanshi, apesar do preconceito de todos e dele mesmo, é uma lição profunda sobre a morte... e a vida. Na cultura japonesa, a profissão de 'nokanshis' é uma combinação entre agente funerário e religioso, mas não é exatamente nenhuma das duas ocupações, é algo único. Um nobre trabalho de lavar, vestir e preparar os corpos para os parentes enlutados e ajudá-los numa melhor travessia. Tanto para quem morreu, como para quem ficou.

Tem uma cena ótima em que o chefe dele se atraca com uma coxinha de galinha, logo depois de ter cuidado de um corpinho que estava há mais de duas semanas morto. Ele, totalmente enojado, constata então a morte do pobre animal. “Sim – diz o senhor – estes estão melancolicamente mortos”. Naquele momento me bateu como um soco no estômago meu difícil processo de estar sempre tentando vegetariar. Já perdi a conta de quantas vezes tive que me explicar, em brigas homéricas, por não querer comer coisas que tenham olhos. Já perdi a conta de quantas vezes me aborreci por enfrentar o preconceito das pessoas, que acham que eu me acho superior porque não como carne. Meu Deus, eu vivo uma luta diária. Sou praticamente uma vegetariana anônima, porque enfrento todos os dias, todos os tipos de dificuldades. O mundo não é vegetariano e por isso existem poucas alternativas para quem não come carne e o que tem é sempre mais caro.

Mas enfim, Anna Sewell, escritora inglesa, disse uma frase assim:
“Se nós vemos coisas erradas ou crueldades, as quais temos o poder de evitar e nada fazemos, nós somos coniventes.”

Isso vale para qualquer tipo de preconceito.

Que eu possa sempre combater meu preconceito aos carnívoros, que eu possa me perdoar por ter sido tão cruel com os médicos-legistas e que o Cinema possa sempre me dar vários tabefes na cara, me fazendo acordar para a vida e me ensinando de forma lúdica, a ser uma pessoa melhor a cada dia – ou a cada sessão. Amém!



29 julho 2009

O INVERNO DA ALMA



Nesses dias de inverno, a gente não sabe dizer se o que mais sente frio é o corpo, ou a alma. Tudo parece tão retraído. O corpo endurece, fica retido, sem expansão. Com a alma acontece a mesma coisa, com o agravante de que com ela não há cachecol que dê jeito. O corpo a gente ainda pode deixar uns vinte minutos embaixo do chuveiro, naquela água quente pelando maravilhosa, que aos poucos ele vai ganhando maleabilidade de novo. Dá para cuidar dele também com um chá de capim cidreira, uma sopinha de batata baroa e um edredom. Mas e a alma? Como que a gente faz para aquecer essa coisa incorpórea, imaterial e invisível mas que sente frio do mesmo jeito como se fosse pele?

Ando com muito frio na alma desde que me separei. Essa coisa de separação depois de estar a vida inteira casada é uma coisa muito esquisita. Meu coração que antes vivia quentinho, agora não só tá pequeno e dolorido como parece que vive resfriado. Chega a doer no peito. Eu tinha um discurso lindo de que mantinha minha individualidade acima de tudo, que perpetuava meu espaço sagrado como Tatiana e coisa e tal. Tudo balela. Depois que a gente casa acaba virando uma geleca amorfa que geralmente não consegue discernir o que é você e o que é o outro. E aí, quando cada corpo precisa seguir um caminho distinto, ao invés de sair inteiro, sai todo despedaçado. Eu tenho sentido que viver essa nova vida tem sido mais ou menos como querer montar um quebra-cabeça de cem mil peças. Pequenas. Se eu ao menos soubesse tricotar, faria um enorme agasalho para vestir minha alma. E aproveitava para aliviar um pouco o peso que ficou para as meninas... Elas não entendem porque de uma noite para a outra, eu comecei a colocar uma de cada lado do meu corpo na cama de casal. Só consigo dormir depois de sentir o coração de cada uma bater junto ao meu.

Dizem os sábios que o inverno é um tempo de recolhimento, de se voltar para dentro, de entrar na caverna e ter a rica possibilidade de ficarmos cara a cara, bem de perto, com nós mesmos. Bom, contanto que eu possa arrumar essa caverna do meu jeito tudo bem. Quero lá minhas pequenas correndo entre brinquedos, um bom estoque de saquinhos de chá, uma lareira para derreter marshmallows, uma adega simples com muitas garrafas de vinho tinto, uma estante com livros de poesia, crônicas e boas histórias de Isabel Allende, um gramofone para tocar meus saudosos discos de vinil (não cabe nada digital na minha caverna) e um bom estoque de papel e caneta pra eu escrever.

Escrever aquece minha alma. Ainda bem que eu lembrei disso. Não sei tricotar, mas uma colcha de letrinhas vou fazer.

ESPEREI TEMPO DEMAIS


Eu esperei tempo demais para começar.
Esperei ficar madura para só me colher no ponto certo.
Esperei ter histórias melhores para contar
E estar com a casa arrumada, limpa e organizada.

No entanto sei que ainda estou verde de dar cica,
As histórias se acumularam de tal forma que muitas perdi pelo tempo. E a casa, bem... a casa está um brinco, mais ainda tenho gavetas e caixas para arrumar.

Eu esperei tempo demais.
Esperei ter a mesa perfeita, a cadeira correta, a cor de parede ideal.
O computador mais adequado, o teclado mais confortável.
Esperei o inverno chegar, depois a chuva cair, depois vir um dia par.

No entanto sei o quanto cada uma dessas desculpas encobriam
Meu tremendo medo de começar. De me expor. De me colocar na estrada e entender que na vida não há jornada que nos traga de volta.

Eu esperei.

Esperei o melhor tempo do relógio, esperei me separar para ter o tempo só para mim.
Esperei desmamar, a fase de menos demanda das meninas, depois a adaptação da escola.
Depois foi a espera pelo tempo livre que nunca vinha porque afinal eu tinha que cuidar de um lar. Supermercado, banco, compromissos urgentes, obrigações inadiáveis.

No entanto, escrever que era a maior urgência de todas, eu pude adiar. Protelar, prorrogar, fazer esperar a única coisa que tinha pressa. A única e simples coisa que podia me salvar de mim mesma.

Eu esperei tempo demais e agora...

Agora eu acabei de cair da arvorezinha da minha vida.
Madura? Não, verde.
Verde de esperança.

21 fevereiro 2009


"Não
haverá
borboletas
se a vida não passar
por longas
e silenciosas metamorfoses"

Rubem Alves