Nesses dias de inverno, a gente não sabe dizer se o que mais sente frio é o corpo, ou a alma. Tudo parece tão retraído. O corpo endurece, fica retido, sem expansão. Com a alma acontece a mesma coisa, com o agravante de que com ela não há cachecol que dê jeito. O corpo a gente ainda pode deixar uns vinte minutos embaixo do chuveiro, naquela água quente pelando maravilhosa, que aos poucos ele vai ganhando maleabilidade de novo. Dá para cuidar dele também com um chá de capim cidreira, uma sopinha de batata baroa e um edredom. Mas e a alma? Como que a gente faz para aquecer essa coisa incorpórea, imaterial e invisível mas que sente frio do mesmo jeito como se fosse pele?
Ando com muito frio na alma desde que me separei. Essa coisa de separação depois de estar a vida inteira casada é uma coisa muito esquisita. Meu coração que antes vivia quentinho, agora não só tá pequeno e dolorido como parece que vive resfriado. Chega a doer no peito. Eu tinha um discurso lindo de que mantinha minha individualidade acima de tudo, que perpetuava meu espaço sagrado como Tatiana e coisa e tal. Tudo balela. Depois que a gente casa acaba virando uma geleca amorfa que geralmente não consegue discernir o que é você e o que é o outro. E aí, quando cada corpo precisa seguir um caminho distinto, ao invés de sair inteiro, sai todo despedaçado. Eu tenho sentido que viver essa nova vida tem sido mais ou menos como querer montar um quebra-cabeça de cem mil peças. Pequenas. Se eu ao menos soubesse tricotar, faria um enorme agasalho para vestir minha alma. E aproveitava para aliviar um pouco o peso que ficou para as meninas... Elas não entendem porque de uma noite para a outra, eu comecei a colocar uma de cada lado do meu corpo na cama de casal. Só consigo dormir depois de sentir o coração de cada uma bater junto ao meu.
Dizem os sábios que o inverno é um tempo de recolhimento, de se voltar para dentro, de entrar na caverna e ter a rica possibilidade de ficarmos cara a cara, bem de perto, com nós mesmos. Bom, contanto que eu possa arrumar essa caverna do meu jeito tudo bem. Quero lá minhas pequenas correndo entre brinquedos, um bom estoque de saquinhos de chá, uma lareira para derreter marshmallows, uma adega simples com muitas garrafas de vinho tinto, uma estante com livros de poesia, crônicas e boas histórias de Isabel Allende, um gramofone para tocar meus saudosos discos de vinil (não cabe nada digital na minha caverna) e um bom estoque de papel e caneta pra eu escrever.
Escrever aquece minha alma. Ainda bem que eu lembrei disso. Não sei tricotar, mas uma colcha de letrinhas vou fazer.
Ando com muito frio na alma desde que me separei. Essa coisa de separação depois de estar a vida inteira casada é uma coisa muito esquisita. Meu coração que antes vivia quentinho, agora não só tá pequeno e dolorido como parece que vive resfriado. Chega a doer no peito. Eu tinha um discurso lindo de que mantinha minha individualidade acima de tudo, que perpetuava meu espaço sagrado como Tatiana e coisa e tal. Tudo balela. Depois que a gente casa acaba virando uma geleca amorfa que geralmente não consegue discernir o que é você e o que é o outro. E aí, quando cada corpo precisa seguir um caminho distinto, ao invés de sair inteiro, sai todo despedaçado. Eu tenho sentido que viver essa nova vida tem sido mais ou menos como querer montar um quebra-cabeça de cem mil peças. Pequenas. Se eu ao menos soubesse tricotar, faria um enorme agasalho para vestir minha alma. E aproveitava para aliviar um pouco o peso que ficou para as meninas... Elas não entendem porque de uma noite para a outra, eu comecei a colocar uma de cada lado do meu corpo na cama de casal. Só consigo dormir depois de sentir o coração de cada uma bater junto ao meu.
Dizem os sábios que o inverno é um tempo de recolhimento, de se voltar para dentro, de entrar na caverna e ter a rica possibilidade de ficarmos cara a cara, bem de perto, com nós mesmos. Bom, contanto que eu possa arrumar essa caverna do meu jeito tudo bem. Quero lá minhas pequenas correndo entre brinquedos, um bom estoque de saquinhos de chá, uma lareira para derreter marshmallows, uma adega simples com muitas garrafas de vinho tinto, uma estante com livros de poesia, crônicas e boas histórias de Isabel Allende, um gramofone para tocar meus saudosos discos de vinil (não cabe nada digital na minha caverna) e um bom estoque de papel e caneta pra eu escrever.
Escrever aquece minha alma. Ainda bem que eu lembrei disso. Não sei tricotar, mas uma colcha de letrinhas vou fazer.