Eu tenho muito, muito medo de ficar louca.
Minha mãe costuma dizer que as pessoas que tem medo de enlouquecer são as que seguramente não ficarão. Eu duvido um pouco. Não acho minha mãe uma pessoa muito normal.
Não que isso seja uma coisa ruim. Muito pelo contrário. A loucura me soa como uma liberdade estarrecedora. Uma contravenção permissiva e heroica na qual se pode tudo, sem limites. E é aí que mora o perigo. Entre a estabilidade da sanidade e a curiosidade do desvario há uma linha muito tênue que pode romper-se a qualquer passo desequilibrado.
O medo da loucura sempre me traz uma sensação estranha de que, a qualquer momento, posso ultrapassar essa linha e não conseguir voltar mais. É um medo bonito. Um medo quase poético de constatar a insensatez da vida.
Outro dia soube de um conhecido que se matou. As notícias de suicídio sempre me deixam perplexa. É preciso muita coragem para tomar essa decisão de interromper a vida. E o que me abate profundamente é imaginar o sofrimento que essa pessoa deveria estar passando. Acho muito compreensível que alguém um dia, simplesmente não consiga mais dar conta da vida.
Eu vivo um conflito diário para tentar dar conta da minha. De verdade. Estou sempre em luta comigo mesma para não sucumbir. Viver antigamente parecia mais fácil. Mas hoje, com tanta informação sobre os acontecimentos do planeta, a sensação que me dá é que tanta injustiça, tanta dor, tanta miséria, tanta desigualdade, tanta crueldade, tanta sombra... não vai caber dentro de mim. Minha terapeuta está sempre tentando me acalmar. Dizendo que a vida é essa eterna dualidade mesmo. Que há sombra, mas também há luz. Que há noite, mas também há o dia para tentarmos sempre, equilibrarmos esse fantástico sistema onde vivemos.
Bom, eu me recuso a viver uma vida medíocre. Mesmo que tenha que pagar um preço altíssimo por isso. Mesmo padecendo mais do que aqueles que ignoram, mesmo tendo que sofrer preconceitos por jamais me acostumar à grandiosidade e magnificência da vida, ainda assim, eu prefiro estar fora do padrão. E ser chamada de doida muitas vezes por aí.
Estar vivo é um milagre. Como é que eu posso achar as coisas normais? Como é que querem me convencer de que vivemos todos, uma única realidade? O que é realidade? Aquilo que é relativo a concreto? Mas com que concretude se pode afirmar o que é e o que não é verdadeiro? A verdade é tão relativa. Nada tem muito explicação ou coerência. Cá entre nós minha gente, o buraco dessa vida é bem mais embaixo e é justamente isso que me apavora.
Que nunca nada nem ninguém me faça perder o espanto. Mesmo com toda a contradição da vida, seguir a vida bordando doidice ainda é a melhor escolha. Mesmo com todo medo que eu tenho da loucura.
Antes pinel do que múmia paralítica.