10 setembro 2009

ALGUÉM ME EXPLICA

Por favor, será que alguém pode me explicar o que foi que aconteceu?

Como foi que a gente permitiu essa alucinação e distorção do tempo no nosso dia-a-dia?
Aonde foi que a gente perdeu o controle da vida e deixou que essa invasão bárbara de infinita demanda assumisse o controle do nosso cotidiano?

Eu hoje chorei lavando louça.

E entendi que mesmo fazendo todo o esforço do mundo, nunca vou conseguir dar conta da minha vida. Não dá. Chega a ser patético. Olhar para todas as minhas responsabilidades e funções, depois para todas as minhas aspirações artísticas, espirituais e existenciais e achar que elas podem se encaixar milagrosamente no que tenho disponível de tempo na minha agenda é um sonho inatingível. Olha, eu conheço esse blábláblá de que preciso entender minhas prioridades e de que ser seletiva na vida hoje é a maior de todas as prioridades. Mas poxa, houve um tempo tão mais justo no passado. Tão mais coerente com o organismo da gente. Tempo das nossas avós, que bordavam e faziam bolo. Tempo das conquistas lentas. Do respeito aos ciclos da natureza. Eu sei que sou uma pessoa nostálgica e que luto muito para tentar achar sentido no caos que virou o nosso mundo. É por isso que escrevo. Mas confesso que muitas vezes o que me fica é a impressão de que essa luta pela valorização das relações humanas, pela busca do essencial e do profundo, é uma luta vã.

Outro dia aconteceu uma coisa surreal. Eu já tinha me desfeito da conta do Orkut há um tempão, porque tinha me aborrecido muito com essa nova condição de relação através de scrapbookmessages. Continuo perguntando e ninguém responde. Quem tem 453 amigos? Mas enfim... na semana passada, uma amiga me convenceu a entrar no Facebook. Que era um lugar mais maduro, de gente descolada, internacional... e que seria uma ótima oportunidade de fazer contatos artísticos. Você precisa ficar antenada com o que está acontecendo com o mundo – disse ela. Tá bem. Fui, entrei e em menos de 12 horas já tinha nas mãos o contato e a vida de mais de 30 amigos. Caramba! Amigos que eu morria de saudade, que eu não tinha notícia há décadas... então, curiosa como sou, passei lá três madrugadas querendo desesperadamente saber deles, do que tinha acontecido com cada um, que caminho suas vidas tinham tomado, por onde andavam. Legal. Mas nem todo mundo entra, nem todo mundo responde. Nem todo mundo se compromete, nem todo mundo tá ali. Porque na verdade, nem todo mundo tem... tempo. Aí foi me dando uma angústia, um vazio... Tão cansada que eu tava, tinha perdido três noites desejando um milagre: pescar amigos com uma rede invisível. Saí do Facebook sem nem me despedir de ninguém. Vocês acham que alguém notou? Não, só a minha amiga antenada que tinha me convidado, que se preocupa de verdade comigo e com a minha necessidade de estar em contato com o mundo. Me ligou de Miami, rindo, dizendo que sabia que no fundo, aquilo não tinha nada a ver comigo. Enfim, isso sem falar no Twitter, no Messenger, no Google Talk. Mother Fucker de mundo americanizado!

Eu choro mesmo lavando louça. Choro porque não tenho empregada todo dia, porque podia ser mais espiritualizada e aproveitar para meditar enquanto ensabôo a panela com restinho de feijão. Choro porque tenho filhas divinas e maravilhosas mas que dão um trabalho braçal incrível na idade em que estão. Choro porque queria escrever, estudar, ler tantos livros, assistir os filmes que peguei há dias na locadora e não tive como. Choro porque não priorizo a natação que me prometo desde que fiz 30. Choro porque queria conhecer o mundo e provavelmente não vá conseguir fazer isso a não ser que me torne uma guia de turismo já. Choro porque queria continuar escrevendo aqui por mais tantas horas, mas agora realmente tenho que ir. Ao banco, ao supermercado e finalmente comprar o milho verde que prometo para Clara há mais uma semana e não consigo cumprir.

4 comentários:

  1. Todo mundo devia passar uns belos dias da bahia! daí quem sabe voltávamos com um ritmo diferente todos juntos.

    A paulicéia quer nos engolir, mas se você cuidar direitinho aí do seu silêncio interior nenhum ruído externo vai poder te afetar.

    Beijo grande, tatinha, se cuida, e chora sim, que é bom

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  2. Tatoca, as coisas aqui estão cheias de sabor.
    Esses dois últimos textos estão deliciosos, com ou sem azeitona.
    Te amo

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  3. Engraçado esse texto não ter mil comentários... Pois sabe que esse me pegou de jeito? Não sei nem o que dizer do meu tempo, da falta dele, dos compromissos em excesso, dos tempos de nunca mais... Eu estou ficando velha, você sabe. E o meu tempo tem uma dimensão bem esquisita ultimamente. E eu fiquei aqui pensando nas tantas e muitas coisas que não vai dar tempo de fazer hoje, que ficarão pra manhã, pra semana que vem, ou pra próxima vida... É, Titi, tá chuviscando lá fora e o melhor que eu posso fazer agora é tomar um bom banho, lanchar com meu homem e depois pensar no que eu não vou fazer amanhã e aproveitar pra viver a vida com todas as minúcias de que eu seja capaz. Acho que só vai dar tempo mesmo é pra sentir o amor que nos invade a alma cada vez que o ar entra e renova cada célula do que se é, corpo e alma. O resto vai ter que ser feito quando der.

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  4. Não foi intencional não. Eu me esqueci de assinar o comentário aí de cima. Acho que foi por falta de tempo rsrsrsrs
    Lá vai uma dose dupla de amor da sua
    Mamy

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