Eu só tenho três azeitonas para comer. Apenas três. Elas e uma taça de vinho.
E é nelas que está contida toda a minha inspiração para falar sobre um assunto muito sério para mim: a magnitude das azeitonas. Tenho um amigo que diz que sou muito exagerada no meu uso de adjetivos. Eu concordo. Mas como é que eu vou conseguir me controlar se o que eu quero esta noite é falar sobre azeitona?
Essa tal de Wikipédia revoluciona minha vida. Fui pesquisar sobre as azeitonas e levei um susto quando descobri que as pretas são as verdes envelhecidas. Questão de metamorfose. Gente, eu não sabia disso! Será que todo mundo sabe? Enfim, prefiro senti-las como o vinho... quanto mais amadurecidas, melhor. Sim, porque sempre tive predileção escancarada pelas pretas. As verdes são incríveis, principalmente aquelas gordas. Mas as pretas, ah... as pretas. Elas tem uma maturação no sabor, uma textura carnuda, um paladar visual. Elas me levam diretamente ao Mediterrâneo, ao seu calor e sol e casas brancas com janelas azuis. Dizem as más línguas que é super hiper mega calórico. Imagina só se alguém me vê com um pão entupido de grossas fatias de azeitona na mão? Vão pensar que enlouqueci. Quem liga para caloria quando se é feliz?
Essa coisa de gulodice misturada com avareza é coisa séria. Pecado brabo. Só pode ser. Uma vez eu quase morri por causa de uma azeitona verde. Eu estava dando uma festa de aniversário em casa e obviamente, ganhei de presente um pote de azeitonas verdes argentinas, daquelas enormes. Coloquei numa cumbuca algumas para servir junto dos petiscos. Comi uma. Como duas. Na oitava achei que devia parar. Eu queria prolongar aquele prazer. E no mais, estavam todos avançando na minha azeitona. Pois bem. Coloquei a cumbuca na geladeira e voltei para sala. Alguém pediu uma cerveja e eu fui buscar. Abri a geladeira, peguei a latinha e assim que eu ia fechando a porta, vi aquelas bolotas verdes indecentes olhando para mim. Ah, pensei, vou comer só mais uma... peguei a safada, joguei na boca e ela foi direto para a glote. Nossa Senhora. Aquela coisa se instalou na minha goela, não descia, nem voltava. Fiz de tudo. Me enforquei, tentei virar de cabeça para baixo. Foram minutos de uma angústia profunda. Achei mesmo que ia morrer. Que patético, pensei, morrer entalada por uma azeitona. Quando finalmente consegui fazer a bicha descer garganta abaixo, já tinha até me despedido da vida.
As azeitonas habitam minha alma num andar muito alto, quase cobertura. Lá estão também o milho verde, a canela, o queijo gorgonzola. Mas isso é assunto para outra prosa. Hoje fico aqui com esse último pedaçinho, da última azeitona que me restou. Isso é que é ser feliz com pouco. Ou com nada. Taí! A azeitona é o Tao do Sabor. Tudo e nada numa só bolota. Maravilha...
(Esse texto é dedicado ao meu pai, João Manoel, que é o maior fã que eu conheço - depois de mim - de azeitonas pretas!)
E é nelas que está contida toda a minha inspiração para falar sobre um assunto muito sério para mim: a magnitude das azeitonas. Tenho um amigo que diz que sou muito exagerada no meu uso de adjetivos. Eu concordo. Mas como é que eu vou conseguir me controlar se o que eu quero esta noite é falar sobre azeitona?
Essa tal de Wikipédia revoluciona minha vida. Fui pesquisar sobre as azeitonas e levei um susto quando descobri que as pretas são as verdes envelhecidas. Questão de metamorfose. Gente, eu não sabia disso! Será que todo mundo sabe? Enfim, prefiro senti-las como o vinho... quanto mais amadurecidas, melhor. Sim, porque sempre tive predileção escancarada pelas pretas. As verdes são incríveis, principalmente aquelas gordas. Mas as pretas, ah... as pretas. Elas tem uma maturação no sabor, uma textura carnuda, um paladar visual. Elas me levam diretamente ao Mediterrâneo, ao seu calor e sol e casas brancas com janelas azuis. Dizem as más línguas que é super hiper mega calórico. Imagina só se alguém me vê com um pão entupido de grossas fatias de azeitona na mão? Vão pensar que enlouqueci. Quem liga para caloria quando se é feliz?
Essa coisa de gulodice misturada com avareza é coisa séria. Pecado brabo. Só pode ser. Uma vez eu quase morri por causa de uma azeitona verde. Eu estava dando uma festa de aniversário em casa e obviamente, ganhei de presente um pote de azeitonas verdes argentinas, daquelas enormes. Coloquei numa cumbuca algumas para servir junto dos petiscos. Comi uma. Como duas. Na oitava achei que devia parar. Eu queria prolongar aquele prazer. E no mais, estavam todos avançando na minha azeitona. Pois bem. Coloquei a cumbuca na geladeira e voltei para sala. Alguém pediu uma cerveja e eu fui buscar. Abri a geladeira, peguei a latinha e assim que eu ia fechando a porta, vi aquelas bolotas verdes indecentes olhando para mim. Ah, pensei, vou comer só mais uma... peguei a safada, joguei na boca e ela foi direto para a glote. Nossa Senhora. Aquela coisa se instalou na minha goela, não descia, nem voltava. Fiz de tudo. Me enforquei, tentei virar de cabeça para baixo. Foram minutos de uma angústia profunda. Achei mesmo que ia morrer. Que patético, pensei, morrer entalada por uma azeitona. Quando finalmente consegui fazer a bicha descer garganta abaixo, já tinha até me despedido da vida.
As azeitonas habitam minha alma num andar muito alto, quase cobertura. Lá estão também o milho verde, a canela, o queijo gorgonzola. Mas isso é assunto para outra prosa. Hoje fico aqui com esse último pedaçinho, da última azeitona que me restou. Isso é que é ser feliz com pouco. Ou com nada. Taí! A azeitona é o Tao do Sabor. Tudo e nada numa só bolota. Maravilha...
(Esse texto é dedicado ao meu pai, João Manoel, que é o maior fã que eu conheço - depois de mim - de azeitonas pretas!)
Tati, eu até entendo e respeito, sabe, esse seu gosto por azeitonas... Mas eu particularmente as detesto. Eu as acho egoísta demais, não deixam nenhuma outra comida ter sabor quando estão juntas! Como a beterraba faz com a sua cor (mas convenhamos, a beterraba é linda). E eu sem gostar de azeitona, tenho que ficar tirando elas das pizzas, das empadas, enfim.. de todos os lugares e em vão porque o gosto ainda fica muito forte! Sou a favor das pizzas e empadas sem azeitona! Mas de qualquer forma que bom que tem alguém que gosta, quando comermos juntas você pode tirar todas as azeitonas do meu prato pra mim.
ResponderExcluirBeijos
Que delícia de azeitona isso aqui, Tatoca!
ResponderExcluirUma beleza!
Minha pequena. Assim como a Julia, tb sou daqueles que não suporta azeitona. Vc sabe disso. Mas hoje, pela primeira vez, pude sentir (com os olhos fechados) o gostinho delas e te confesso que até simpatizei por elas. Lindo texto.
ResponderExcluirBeijos com gostinho de azeitonas.
Azeitonas Pretas,Vinho Branco.Casal Perfeito Para Ser Degustado,Principalmente Em Um Ambiente A Luz De Velas. Barbaro!!
ResponderExcluirEspero que você dedique a do queijo gorgonzola a mim... amo você. Tereza
ResponderExcluirTica, acho que seu texto está cada vez melhor, pegando embocadura. Muito bons. Persevere...
ResponderExcluirAcho que vou convidar você para dar um passeiozinho até ali na Grécia...rs.
ResponderExcluir"Retire a azeitona do mundo e ele perderá o sabor"
Provérbio Eduardiano :)
Bjs
Sabe que sou apaixonada por azeitonas. Elas dão um toque a tudo. Sabe àquela frase: tudo o que ela toca vira ouro..., acho que foi escrita pra ela. Quando li o texto lembrei-me de quando vc morava aki e me dizia que queria escrever sobre tudo, que tinha um caderninho que levava para todo lugar e que gostaria de escrever sobre pipocas tão detalhadamente que apenas lendo sentiriam o cheiro e pensariam em cinema. Assim foi hoje com as azeitonas, senti o cheiro e o gostinho, hummm!
ResponderExcluirBjs
Micka
Garota, que azeitonas maravilhosas essas suas, hein? Eu estou entusiasmadíssima com as possibilidades metafóricas desse fruto tão especial. Falar de azeitonas e da vida é quase a mesma coisa. Passemos à metonímia e façamos alguns saraus para se falar de azeitonas! A começar da oliveira-mãe que pode durar 1.000 anos. Dos frutos que, quanto mais tempo no pé, mais amadurecidos ficam, dando a quem as colha, uma carne tenra, negra e voluptuosa. Amadurecer, portanto, é fundamental. Sem ser curtida é um fruto amargo e intragável. Mas, tratadas pelo ancestral cuidado culinário das salmouras, tornam-se esse pitéu dos deuses. E para os que não reconhecem seu poder mágico, pobres desafortunados, ainda resta apreciar ao menos sua forma perfeita e seu brilho resplandecente que adornam mesas de todo o mundo! E viva as azeitonas, ou melhor, Viva a Vida! Tatiana Telink agora também é cultura!
ResponderExcluirGracias, por escrever com tanto sabor!
Mamy