22 outubro 2009

Tem dias que eu fico assim




Tem dias que eu fico assim
Precisando muito beber, me entorpecer
Abro uma garrafa de vinho e ele me encharca ainda mais os quereres
Como compulsivamente
Azeitonas, pepinos, amendoins
Pãozinho com queijo e alcaparras
É, tem dias que eu fico assim
Só me aquieto um pouco depois de colocar
Uma colher de sopa de mostarda escura numa torradinha qualquer
Tudo o que vem lá de dentro
É uma ânsia, uma sede
De sabor, de picância
Opa! Essa palavra aí não tem no Houaiss
Sede de picância foi inventado por mim
Mas tem tudo a ver com o meu dizer
Tem dias que eu fico assim
Febril, sedenta, faminta
Não sei o que me dá, mas dá
Uma coisa subcutânea, sublingual, subliminar
A noite quieta só me aguça o desejo de expressar
Escrevo, escrevo, mais não adianta nada
Acendo um cigarro, trago bem fundo
Fico tonta e a coisa não passa
Nem o sabor, nem o labor faz passar essa escassez
Nada parece poder fazer passar o que lateja aqui dentro de mim
Porque eu não sei o que é
Se soubesse, engolia com vinho ou devorava feito canapé
Mas não é
Tem dias que eu fico assim
Talvez seja essa escola de samba que precisa desfilar
Talvez seja aquela música que fez chorar
Ou talvez seja a vida,
que só precisa
simplesmente
acontecer.

3 comentários:

  1. Que lindo, Tatoca!

    E a vida acontece.
    Mesmo quando não.

    Como aqui.

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  2. Que lindo, Tatiana!
    A vida acontece o tempo todo, e ver que a inquietação produz poesia me faz acreditar que é verdade o que dizem: a beleza está em todo lugar.
    Beijo
    Renata

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