20 setembro 2010

Liberdade

São Jorge 
Arte de Marta Oliveira


O primeiro movimento é como um pau duro.

Ele é livre e forte e carrega todos os símbolos da ação e da liberdade.

Sento para escrever e dos meus dedos frenéticos começo o bordado alucinado das minhas idéias.

De repente, uma névoa baixa ao meu redor e eu desacelero o rítmo. As idéias começam a se dissipar. A primeira leitura me faz cortar uma, duas, três palavras. Daquela maravilhosa sensação de excitação, vejo surgir de dentro de mim mesma um fantasma censor, onde - pensando bem - onde eu estava com a cabeça em querer começar um texto dizendo que o primeiro movimento é como um pau duro?

Mas pau duro é símbolo do meu animus! Aquela coisa linda que o Jung criou para explicar os arquétipos que existem dentro da gente! A força masculina que habita dentro da mulher e faz com que ela se transforme numa potência energética para sair fazendo mil coisas por aí.

Peraí! Peraí! Pára tudo. Você tá se explicando?!

Eu era muito pequena quando minha mãe me perguntou:
- Você quer saber o que é liberdade? É só olhar para um cavalo correndo.

Perdi a conta da quantidade de palavras que deletei nesses últimos anos aqui no meu laptop. O volume de idéias preciosas que joguei fora por achá-las, um pouco, digamos assim, inadequadas.

Meu Deus do Céu, onde foi na trajetória da minha vida que eu deixei minha alma de égua puro sangue ser substituída por uma burrinha de carga que morre de medo do mundo e do que os outros pensam? Quando foi que esse fantasma que habita em mim se tornou mais forte do que a minha própria força criativa?

Ao meu fantasma e aos censores anônimos, eu esbravejo:

Vou construir um escudo para lutar contra vocês. Ele vai ser cravejado das minhas melhores e mais fortes palavras.

E o primeiro texto vai ser sobre libido. Essa energia poderosa que faz com que todos os paus do mundo se ergam, todas os ventres se inflamem de paixão e criem, porque ela fala essencialmente do que somos feitos: energia primordial criativa.

Lembrei agora que não tenho pau. Mas tenho meu cavalo, um escudo poderoso e dez incríveis espadas cravadas nas minhas mãos. Tô me sentindo praticamente uma versão feminina de São Jorge.

Quero ver quem vai me vencer agora.

9 comentários:

  1. Tinha que começar no p.d. de novo?!? rs

    Expira verdade seu texto! Gostei demais...

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  2. Só pode se sentir livre aquele que sabe o que verdadeiramente significa não sê-lo. Para alcançar a liberdade há que, antes ter decifrado cada elo da corrente que te aprisiona. Anaïs Nin disse que "a vida se encolhe ou se expande na proporção da sua coragem". Isso me faz pensar que minha liberdade depende da minha coragem. Significa não me deixar aprisionar pela mão de quem quer que seja, nem a minha própria. Coragem de descobrir quem eu sou e ser livre para me exercer. Avante São Jorge! Cavalga para além do dragão que ele já está morto!
    Irene

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  3. Tati,
    que encontro lindo que tive com suas palavras. E com vc tb, Irene. Que encontro bom que tive com o encontro de vcs. Me deu curiosidade de vcs! Grande beijo.
    Salve Jorge, sempre!
    Kadu

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  4. bom, gozei na primeira frase!

    e moça do pauzão e das espadas (adorei isso!) como a mãe disse antes: "Significa não me deixar aprisionar pela mão de quem quer que seja, nem a minha própria".

    Bora se derrubar toda vez que virar o dedo contra você.

    Maravilha!
    Vai que eu tô vendo cê indo...

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  5. Oi, Tati.
    Quanto tempo...
    vc ta em Nikiti? Eu voltei pra Gávea... caso e venho pra Gávea!
    Mas fico de longe te lendo, te ignorando...
    Lindo texto, de mulher madura e sensivel.
    Bjs
    Claudio Lins

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  6. Encha o pulmão de ar e siga em frente! Essa sensação é boa, né? Beijo e sorte!

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  7. Coisa boa...inspira e liberta! Não pare mais...siga escrevendo...Beijos, Rafa

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  8. E' Irene voce fez o grande comentario....
    As suas filhas se tornaram grandes mulheres e
    o São Jorge delas e' veloz!!!
    Nossos eternos parabens para essas tres mulheres,
    Irene, Manuela e Tatiana.
    Beth

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  9. Você está uma graça nesta foto.

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