Final da tarde. Céu azul já pintado de laranja. Praça XV frenética com seu vai-e-vem de gente correndo para alcançar a barca. Debaixo do viaduto um homem solitário, recostado numa cadeira quebrada, sola sua guitarra num som estridente, com os olhos vidrados em algum lugar muito longe dali. O amplificador - a um passo de quebrar também - não parece amplificar sua música e sim a angústia de sua urgência artística, essa que assolam os artistas do mundo, que mesmo sem ter condição ideal de se manifestar, encontram sempre um viaduto e transeuntes surdos para lhes ouvir.
Depois de me despedir silenciosamente do músico, sigo meu rumo em direção ao CCBB. Nesta noite eu vou assistir uma peça sobre Clarice Lispector. Quando de repente me lembro do Café Livraria Arlequim. Eu estava louca por um café. Ah, que delícia sair do ar viciado e carbônico da Primeiro de Março e poder entrar num mundo paralelo, apenas atravessando uma porta de vidro. As livrarias definitivamente tem um cheiro divino, principalmente as que se misturam com café. Essa alquimia ainda pode se tornar mais curativa, quando além do olfato você cuida dos ouvidos. Quando entrei tive que disfarçar meu prazer: tocava um tango... belíssimo! Entrei, fechei os olhos, respirei fundo e disse para alguém que não ouviu: obrigada pelo instante! Ah essa fartura sensorial e criativa de que é feito o mundo!
Sem dúvida alguma, eu também sou uma criatura que sofre de urgência artística. Com a vantagem de me alimentar não só das obras de arte, mas como também da arte que a vida nos dá. No cotidiano, nos sentidos, no observar a vida e se inundar dela. Outro dia ganhei um presente da vida. Eu voltava para Niterói de 996 e me deliciava com aquela beleza absurda do sol refletindo seu brilho na água do mar - quando consegui me deparar com uma cena ainda mais linda dentro do ônibus. O trocador, quieto e concentrado, fazia um origami de pássaro numa nota de dois reais. Lá estava mais um artista com urgência de expressar sua alma.
Saramago diz que “todos somos escritores, só que alguns escrevem, outros não.” Eu diria que todos somos artistas, só que alguns tem pressa, outros não.
Depois de me despedir silenciosamente do músico, sigo meu rumo em direção ao CCBB. Nesta noite eu vou assistir uma peça sobre Clarice Lispector. Quando de repente me lembro do Café Livraria Arlequim. Eu estava louca por um café. Ah, que delícia sair do ar viciado e carbônico da Primeiro de Março e poder entrar num mundo paralelo, apenas atravessando uma porta de vidro. As livrarias definitivamente tem um cheiro divino, principalmente as que se misturam com café. Essa alquimia ainda pode se tornar mais curativa, quando além do olfato você cuida dos ouvidos. Quando entrei tive que disfarçar meu prazer: tocava um tango... belíssimo! Entrei, fechei os olhos, respirei fundo e disse para alguém que não ouviu: obrigada pelo instante! Ah essa fartura sensorial e criativa de que é feito o mundo!
Sem dúvida alguma, eu também sou uma criatura que sofre de urgência artística. Com a vantagem de me alimentar não só das obras de arte, mas como também da arte que a vida nos dá. No cotidiano, nos sentidos, no observar a vida e se inundar dela. Outro dia ganhei um presente da vida. Eu voltava para Niterói de 996 e me deliciava com aquela beleza absurda do sol refletindo seu brilho na água do mar - quando consegui me deparar com uma cena ainda mais linda dentro do ônibus. O trocador, quieto e concentrado, fazia um origami de pássaro numa nota de dois reais. Lá estava mais um artista com urgência de expressar sua alma.
Saramago diz que “todos somos escritores, só que alguns escrevem, outros não.” Eu diria que todos somos artistas, só que alguns tem pressa, outros não.